Exemplos de duas mulheres fundamentais na minha vida me ensinaram: quando o amor acaba, sofrer é inevitável. E o caminho que deixa menos cicatrizes é o da honestidade. Por mais doloroso que pareça.
Uma frase me marcou nesse teu texto: "Ele nunca deixou faltar nada".
Essa frase era dita aos borbotões por todas as irmãs da minha mãe e até por ela própria quando definiam seus maridos. O que me faz pensar o seguinte:
Estamos como filhos e homens presos numa estrutura hereditária que se impõe pela palavra como forma de doutrinação ou em alguns casos pela violência. E uma violência que perdura por anos. Eu flagrei meu pai dentro do escritório que trabalhava com uma colega de trabalho. Quando eu confrontei-o, na frente de minha mãe (como todas as vezes que fiz) eu tomava obrigatoriamente um tapa na cara ou apanhava de cinta.
Em todas as vezes depois de algumas semanas, minha mãe (com toda a delicadeza e amor desse mundo) me dizia que não devera ficar triste por apanhar pois meu pai nunca deixou faltar nada em casa.
Somos criados como pessoas através dessa estrutura. Nossa cognição é construída dentro de uma distopia que e vendida como verdade. Agradeço teu compartilhar, pois penso que se conversa muito pouco sobre a semiótica da estrutura que nos constrói como indivíduos dentro do grupo. Muito se fala em desconstrução em mesas redondas com homens de mocassim sem meia, mas ninguém dialoga com a ruptura, muito menos com discussão da construção de gerações e gerações.
Pois, Fábio, a estrutura patriarcal passou séculos e séculos construindo essa narrativa de normalidade e entendo que não seja fácil descontruí-las. As vítimas do modelo, as mulheres, largaram na nossa frente – como quase sempre acontece –, mas é um trabalho contínuo, para muitos e muitos anos.
Ferdi nu com um teclado na mão..hahaha...desculpe a imagem, mas textos de valor testemunhal podem provocar isso nos leitores, fique sabendo. Vcs homens são engraçados e difíceis. Relutam em mergulhar nos próprios sentimentos e preferem muitas vezes a segurança das bordas e superfícies. Nos vendem que isso não é coisa de menino. E assim se lançam em protocolos difíceis de uma vida a dois, porto seguro para corações inseguros. Triste ilusão. Tristes desilusões. Óbvio, esse é o olhar de uma mulher e no caso, de quem já sofreu a morte violenta de uma traição. Amar profundamente a si mesmo e ao outro é a única vacina potente contra as doenças do coração. Corações alheios, nossos filhos e próximas gerações agradecem a imunização que não consta em nenhum serviço de saúde, mas nas palavras de um ser estranho que por aqui passou dois mil atrás, sim. Beijo estalado, Ferdi.
Tentei levar. Não é fácil ser vilão na vida de alguém. Destruir sonhos, planos, idealizações. Deixei correr...
Terminei de ler o texto com lágrimas nos olhos... não é fácil ser vilão na vida de alguém. É igualmente difícil ser vilão na própria vida e ignorar o que sente.
O tempo todo, a cada dia, Kaká. Sem coragem, a gente não dá um passo, não levanta da cama, não toma uma única decisão que seja. Quanto maior a decisão, maior a coragem necessária.
Obrigado, Lili! Já andava a sentir a vossa falta por aqui... Sobre a crônica (ou será conto?), toda memória tem um pouco de ficção, toda ficção tem um tanto de verdade, não é mesmo? Ainda assim, aventurar-se na ficção pode parecer um salto para gente como nós, treinada nas artes de relatar fatos. Daí a dúvida.
Você não faz ideia do impacto de Desnorteando na minha vida. Vai muito além das boas leituras, da diversão, da troca rica de experiências. Muito, muito obrigada por ter criado essa página, me chamado pra acompanhá-la e me inspirado pra voltar ao teclado. Todo o bem que a gente faz, volta pra gente. Receba aí, Ferdi!
Dureza tratar dessas mazelas... mas elas estão aí, afinal...
A foto, se não me engano, é da festa de 50 anos de casamento dos avós... tenho boas lembranças da casa deles, embora os primos fossem todos moços, e nós pequenos, havia lá sempre um clima festivo quando chegávamos...
A melancolia portuguesa estava na casa da nossa avó materna, também a peguei chorando muitas vezes, a espreitar a foto dele - quadro pintado pela nossa mãe - a nos vigiar com o olhar severo, que tão bem conhecemos...
Essa carta dá uma ótima sessão de terapia... Adiante, adiante!
Cheguei aqui muito atrasada, mas quero ler a Covardia de ficção.
Meu pai também nunca deixou faltar nada, exceto ele mesmo.
Oi, Maria José: este aqui é o link para a crônica. Obrigado por compartilhar sua história. https://open.substack.com/pub/desnorteando/p/covardia?r=6o6st&utm_campaign=post&utm_medium=web&showWelcomeOnShare=false
Ferdinando. Bom dia.
Uma frase me marcou nesse teu texto: "Ele nunca deixou faltar nada".
Essa frase era dita aos borbotões por todas as irmãs da minha mãe e até por ela própria quando definiam seus maridos. O que me faz pensar o seguinte:
Estamos como filhos e homens presos numa estrutura hereditária que se impõe pela palavra como forma de doutrinação ou em alguns casos pela violência. E uma violência que perdura por anos. Eu flagrei meu pai dentro do escritório que trabalhava com uma colega de trabalho. Quando eu confrontei-o, na frente de minha mãe (como todas as vezes que fiz) eu tomava obrigatoriamente um tapa na cara ou apanhava de cinta.
Em todas as vezes depois de algumas semanas, minha mãe (com toda a delicadeza e amor desse mundo) me dizia que não devera ficar triste por apanhar pois meu pai nunca deixou faltar nada em casa.
Somos criados como pessoas através dessa estrutura. Nossa cognição é construída dentro de uma distopia que e vendida como verdade. Agradeço teu compartilhar, pois penso que se conversa muito pouco sobre a semiótica da estrutura que nos constrói como indivíduos dentro do grupo. Muito se fala em desconstrução em mesas redondas com homens de mocassim sem meia, mas ninguém dialoga com a ruptura, muito menos com discussão da construção de gerações e gerações.
Pois, Fábio, a estrutura patriarcal passou séculos e séculos construindo essa narrativa de normalidade e entendo que não seja fácil descontruí-las. As vítimas do modelo, as mulheres, largaram na nossa frente – como quase sempre acontece –, mas é um trabalho contínuo, para muitos e muitos anos.
Ferdi nu com um teclado na mão..hahaha...desculpe a imagem, mas textos de valor testemunhal podem provocar isso nos leitores, fique sabendo. Vcs homens são engraçados e difíceis. Relutam em mergulhar nos próprios sentimentos e preferem muitas vezes a segurança das bordas e superfícies. Nos vendem que isso não é coisa de menino. E assim se lançam em protocolos difíceis de uma vida a dois, porto seguro para corações inseguros. Triste ilusão. Tristes desilusões. Óbvio, esse é o olhar de uma mulher e no caso, de quem já sofreu a morte violenta de uma traição. Amar profundamente a si mesmo e ao outro é a única vacina potente contra as doenças do coração. Corações alheios, nossos filhos e próximas gerações agradecem a imunização que não consta em nenhum serviço de saúde, mas nas palavras de um ser estranho que por aqui passou dois mil atrás, sim. Beijo estalado, Ferdi.
Robes e suas palavras sempre sábias, com exceção dessa horrenda imagem do escritor a tentar cobrir as vergonhas com com seu teclado! 🤦🏻♂️
🤭
Comovente seu texto, como de costume. Curioso para ler Covardia. Um abraço!
Obrigado, Andre. Ainda tentando reunir coragem para publicar mostrar Covardia (não deixa de ser um trocadilho 😂).
Tentei levar. Não é fácil ser vilão na vida de alguém. Destruir sonhos, planos, idealizações. Deixei correr...
Terminei de ler o texto com lágrimas nos olhos... não é fácil ser vilão na vida de alguém. É igualmente difícil ser vilão na própria vida e ignorar o que sente.
O que a vida pede da gente é coragem, não é?
O tempo todo, a cada dia, Kaká. Sem coragem, a gente não dá um passo, não levanta da cama, não toma uma única decisão que seja. Quanto maior a decisão, maior a coragem necessária.
Que texto adorável! Um primor. Publica Covardia, sim. Não publicar por quê?
Obrigado, Lili! Já andava a sentir a vossa falta por aqui... Sobre a crônica (ou será conto?), toda memória tem um pouco de ficção, toda ficção tem um tanto de verdade, não é mesmo? Ainda assim, aventurar-se na ficção pode parecer um salto para gente como nós, treinada nas artes de relatar fatos. Daí a dúvida.
Você não faz ideia do impacto de Desnorteando na minha vida. Vai muito além das boas leituras, da diversão, da troca rica de experiências. Muito, muito obrigada por ter criado essa página, me chamado pra acompanhá-la e me inspirado pra voltar ao teclado. Todo o bem que a gente faz, volta pra gente. Receba aí, Ferdi!
Amoleceu o coração aqui. Posso compartilhar esse seu comentário? ♥️
Claro! Achei que até que já estivesse compartilhado, ainda estou aprendendo a mexer nesse Substack. E foi você a mola propulsora. Um dia você saberá.
Mano, sempre belas as suas cartas...
Dureza tratar dessas mazelas... mas elas estão aí, afinal...
A foto, se não me engano, é da festa de 50 anos de casamento dos avós... tenho boas lembranças da casa deles, embora os primos fossem todos moços, e nós pequenos, havia lá sempre um clima festivo quando chegávamos...
A melancolia portuguesa estava na casa da nossa avó materna, também a peguei chorando muitas vezes, a espreitar a foto dele - quadro pintado pela nossa mãe - a nos vigiar com o olhar severo, que tão bem conhecemos...
Essa carta dá uma ótima sessão de terapia... Adiante, adiante!
Publique, sim, a crônica-conto...
Muitos beijos da sua admiradora número 1!
Nossa, aquele quadro, né? Está na casa de nossa mãe?
Sim, no quarto de hóspedes